
O texto abaixo foi extraido de uma matéria originalmente publicada no Jornal do Commercio, em 03/12/2000.
Mestres dão longa vida aos pianos
O ramo de reparos e afinação conta com excelentes e experientes profissionais, procurados por pessoas de todo o Estado e de regiões vizinhas
O piano em Pernambuco fez tradição não apenas para concerto de músicos profissionais e amadores, mas também no ramo de conserto e afinação, que conta com técnicos de referência em toda a região.
No campo de recuperação e manutenção, destaca-se a oficina Chateau Pianos. Considerada a maior da região, recebe, além de instrumentos particulares, outros de grandes instituições do Estado. O proprietário, Jonas Chateaubriand Filho, é neto de um dos pioneiros do ofício neste século.
Proveniente de Jussaral, localidade próxima ao município de Vitória de Santo Antão, o avô de Jonas, Nathanael Pessoa de Luna chegou ao Recife em 27 de junho de 1930, um dia após a morte do então presidente da Paraíba, João Pessoa. A data impressionante também marcaria uma reviravolta na vida daquele jovem de 21 anos.
Órfão e marceneiro de ofício, o rapaz se empregou numa marcenaria que recuperava caixas de piano designados para leilão. Curioso, Nathanael passou a cuidar também da parte mecânica do aparelho. Ao sair da empresa, comprou um único piano para restaurar e vender. Desde então, fez da recuperação do instrumento sua principal atividade.
Em poucos anos, de acordo com o neto Jonas, o avô – auxiliado pelo irmão mais novo, que também viera para o Recife – montou a oficina Irmãos Nathanael e Djalma Pessoa, que funcionou na Rua Vidal de Negreiros, nº 40 (São José), até a dissolução da sociedade, em 1981.
O irmão continuou trabalhando no mesmo endereço e a família acreditava que Nathanael iria se aposentar. Mas, em casa, ele continuava a recuperar alguns pianos. Foi aí que o neto Jonas Chateaubriand Filho, então estudante de Química com 24 anos, aproveitou a dificuldade de arrumar emprego e passou a ajudar e aprender o ofício do avô. “Ele me ensinou a trabalhar como há 50 anos”, conta. “Foi uma escola muito boa. Só depois usei a tecnologia”.
O interesse de Jonas virou até matéria de jornal. O rapaz passou a investir na oficina, ampliou o negócio e hoje possui aquela que é considerada a maior empresa de consertos da região, a Chateau Pianos, no bairro de Água Fria.
Para Jonas Chateaubriand não há mercado ruim de piano. Atualmente ele conta umas 25 unidades para conserto em sua oficina. Atende a vários clientes do Ceará a Alagoas, inclusive com venda de produtos (é representante da Piano Manufatura Paulista). Lá, já restaurou um raro piano de mesa, proveniente do Maranhão, de acordo com o técnico, um modelo típico da época de transição do cravo para o piano. Algumas peças ele precisou mandar recuperar em São Paulo.
Entre outros serviços, Jonas já cuidou de 16 pianos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, diversos da UFPE e o antigo do Teatro Santa Isabel. “Este estava no incêndio que houve no Centro de Convenções da UFPE”, conta. “foram oito meses para recuperá-lo. No ano passado, participou de todos os concertos do ciclo em homenagem a Chopin”.
O processo de recuperação inclui serviços de marcenaria, aplicação de verniz, montagem, afinação e transporte. “Eu nunca deixei de recuperar um piano”, garante. “Se não sei fazer, busco quem faça”.
Entre as quase 30 unidades que estão em sua oficina, Jonas aguarda há três anos a liberação por parte da Prefeitura do Recife para consertar dois pianos – um Steinway e outro Essenfelder –, bastante danificados, que ele foi buscar no Teatro do Parque.
Já o transporte, feito há cem anos por ‘carregadores de pianos’, também é especializado. O instrumento é em parte desmontado, posto sobre uma caminhonete, envolvido em feltros, cobertores e lonas, e a entrega garantida. “Nunca deixei de colocar um piano dentro de um apartamento e nem tive que quebrar nenhuma parede”, afirma.